O arcebispo de Canterbury, Justin Welby, líder da Igreja da Inglaterra e da Comunhão Anglicana global, anunciou sua renúncia em meio à revolta gerada por um escândalo envolvendo o encobrimento de abusos.
Em uma declaração divulgada no site da Igreja da Inglaterra na terça-feira (12), Welby anunciou sua decisão de renunciar, após ter recebido “a graciosa permissão” do Rei Charles III.
“A Revisão Makin expôs a conspiração de silêncio mantida por tanto tempo sobre os abusos hediondos de John Smyth”, declarou Welby.
“Quando fui informado em 2013 e me disseram que a polícia havia sido notificada, acreditei, de forma equivocada, que uma resolução apropriada seguiria.”
A “Makin Review” (Revisão Makin, em português) é uma investigação independente encomendado pela Equipe Nacional de Salvaguarda da Igreja e liderada por Keith Makin, com o objetivo de examinar como a Igreja da Inglaterra lidou com as alegações de abuso perpetradas por John Smyth, um ex-advogado e líder de um grupo cristão.
Agenda LGBT
Recentemente, Justin Welby divulgou uma declaração pública sobre sua aceitação não apenas das relações homossexuais, mas também do sexo fora do casamento.
O líder espiritual da Igreja da Inglaterra disse que sexo fora do casamento é aceitável se ocorrer em um relacionamento estável.
O pensamento de Welby “evoluiu ao longo dos anos” para “incluir as pessoas LGBTQ+ de maneira mais plena na vida da Igreja”, justificou o Palácio de Lambeth, a residência oficial do Arcebispo de Canterbury.
Sua resposta foi dada em entrevista no podcast The Rest is Politics, quando ele foi questionado se considerava o sexo gay um pecado.
O arcebispo já havia sido questionado sobre o mesmo tema pelo mesmo entrevistador em 2017, quando respondeu:
“O que o arcebispo de York e eu, assim como a maioria dos bispos, chegaram a um consenso, embora não unânime, é que toda atividade sexual deve acontecer dentro de um relacionamento comprometido, seja este heterossexual ou gay”.
Abusos de jovens
O falecido Smyth foi acusado de abusar fisicamente de jovens em acampamentos nos anos 1970 e 1980. A revisão busca estabelecer o que a Igreja sabia sobre os abusos, o que deveria ter sabido de acordo com as melhores práticas da época e recomendar mudanças para evitar que tais abusos ocorram novamente.
“É muito claro que devo assumir a responsabilidade pessoal e institucional pelo longo e retraumatizante período entre 2013 e 2024”, declarou Welby.
O arcebispo prosseguiu dizendo que esperava “que essa decisão deixe claro o quão seriamente a Igreja da Inglaterra entende a necessidade de mudança e nosso profundo compromisso em criar uma igreja mais segura.”
“Os últimos dias renovaram meu sentimento profundo e duradouro de vergonha pelas falhas históricas de proteção da Igreja da Inglaterra. Por quase doze anos, lutei para implementar melhorias. Cabe aos outros julgar o que foi feito”, afirmou.
“Enquanto isso, cumprirei meu compromisso de me reunir com as vítimas. Delegarei todas as minhas outras responsabilidades atuais em relação à proteção até que o processo necessário de avaliação de riscos esteja completo.”
Welby acreditava que sua renúncia “é do melhor interesse da Igreja da Inglaterra” e orou para que “essa decisão nos aponte de volta ao amor que Jesus Cristo tem por cada um de nós.”
A investigação
No início deste mês, uma investigação independente publicou um relatório, conhecido como Relatório Makin, que revelou que John Smyth provavelmente abusou de mais de 100 meninos e jovens adultos enquanto participavam de acampamentos cristãos entre o final da década de 1970 e o início da década de 1980.
John Smyth faleceu em 2018, aos 75 anos, enquanto residia no Zimbábue. As autoridades britânicas estavam processando sua extradição para o Reino Unido para que ele enfrentasse as acusações.
“Apesar dos consideráveis esforços de indivíduos para chamar a atenção das autoridades competentes sobre a extensão e o horror da conduta de Smyth, incluindo por vítimas e alguns clérigos, as medidas tomadas pela Igreja da Inglaterra e por outras organizações e indivíduos foram ineficazes e não expuseram completamente nem impediram novos abusos por parte dele”, afirmou o relatório investigativo, conforme citado pela Episcopal News Service.
Pedidos de renúncia
Muitos acusaram Welby de não ter agido de forma adequada quando as alegações confiáveis de abuso foram relatadas a ele e a outros líderes da igreja em 2013, com o arcebispo enfrentando crescentes pedidos para renunciar.
Na semana passada, foi iniciada uma petição online solicitando a renúncia de Welby, que reuniu mais de 13.000 assinaturas antes de sua decisão de deixar o cargo.
“Dado o seu papel em permitir que o abuso continuasse, acreditamos que sua permanência como Arcebispo de Canterbury já não é mais viável. Devemos ver mudanças, em favor dos sobreviventes, para a proteção dos vulneráveis e para o bem da Igreja”, afirmou a petição.
“Com tristeza, acreditamos que não há alternativa à sua renúncia imediata, se o processo de mudança e cura deve começar agora.”