Um sobrevivente do massacre de “Columbine High School”, uma escola de ensino médio em Columbine, Colorado, nos Estados Unidos, contou como uma viagem missionária à África o ajudou a compreender a importância do perdão.
Após 25 anos da tragédia que chocou o mundo, Craig Scott compartilhou como sua experiência em 20 de abril de 1999 o ajudou a falar sobre algumas dores profundas que os jovens de hoje enfrentam.
Em uma entrevista recente ao The Christian Post, Craig, de 41 anos, disse que começou a aprender a se libertar da raiva depois de ter sido convidado a ocupar o lugar da sua irmã em uma viagem missionária à África com uma organização juvenil evangélica.
Enquanto ministrava às pessoas feridas que viviam em campos de refugiados, ele contou que conheceu pessoas que sofreram perdas maiores do que as dele, o que lhe ensinou o poder da gratidão e do perdão.
“Conheci uma pessoa que perdeu 17 membros da sua família devido à morte de toda a sua tribo, mas ainda assim viveu uma vida de perdão”, relatou ele, acrescentando que voltou da viagem, que durou cerca de dois meses, percebendo que nunca teve uma razão para reclamar de qualquer coisa.
E continuou: “Lembro que em África comecei a realmente me desapegar. Eu literalmente peguei minha raiva nas mãos, como se fosse uma coisa física, e simplesmente a liberei para o Céu. Eu a entreguei a Deus. Eu teria que fazer isso de novo e de novo, especialmente quando vi os rostos [dos atiradores] no noticiário”.
Relembre o caso
Craig tinha 16 anos quando ouviu tiros enquanto estudava para uma prova de biologia na biblioteca da escola com seu amigo Matt Kechter. Os sons foram os primeiros disparados pelos idosos Eric Harris e Dylan Klebold, o que levou Scott a se esconder debaixo de uma mesa com o amigo.
Naquele dia, a maioria das vítimas foi morta na biblioteca e Craig testemunhou o assassinato de Kechter e seu outro amigo Isaiah Shoels. Enquanto se escondia, Craig orou para que Deus removesse seu medo.
Na época, em uma entrevista ao programa “Today”, ele afirmou que depois de clamar a Deus, ouviu uma voz que o instruiu a fugir da biblioteca.
“Acabei deitado no chão. Eu estava orando a Deus para me dar coragem e nos proteger”, disse Craig em 1999.
Ele escapou por pouco, mas logo descobriu que sua irmã, Rachel Joy Scott, de 17 anos, foi a primeira a ser morta. Os assassinos supostamente a insultaram por sua fé cristã, antes de tirar sua vida, no massacre que abalou o mundo.
Após assassinar 12 alunos e um professor, Harris e Klebold se suicidaram na biblioteca. Outras 21 pessoas sofreram ferimentos à bala e outras três ficaram feridas em meio ao caos.
Em 2012, durante uma entrevista à CNN, Craig contou como a raiva que nutria pelos assassinos de sua irmã ameaçava arrastá-lo para a mesma escuridão espiritual que os havia consumido.
“Eu estava fora de mim mesmo e percebi que estava me tornando mais parecido com os atiradores à medida que me concentrava neles e mantinha minha raiva e ódio por eles”, disse Craig na época.
A história de Rachel Scott inspirou a criação de uma organização de prevenção de bullying e violência escolar, chamada “Rachel’s Challenge”. E levou Craig a falar sobre a dor que havia experimentado.
‘Questão espiritual’
Ao The Christian Post, Craig explicou “um grande fator” por trás do massacre: “Para mim, é uma questão profunda. É uma questão espiritual e também diz respeito à saúde mental”.
“Os problemas estão nos corações dos jovens e é aí também que estão as soluções”, acrescentou ele.
Ele observou como um número cada vez maior de jovens que conhece lutam contra a solidão, a depressão e pensamentos suicidas.
“O maior problema é a solidão e a depressão. O suicídio é a segunda principal causa de morte entre adolescentes em nosso país, então esse é um problema muito maior. Mas você não combate os problemas focando apenas no problema, você combate os problemas focando na solução”, declarou ele
Craig, que tem lutado contra a depressão, afirmou que passou a acreditar que a solução para ela e outros problemas emocionais, como a solidão, a raiva e o ódio, é “agradecimento e gratidão”.
‘O perdão liberta’
Para Craig, o perdão é um passo importante no caminho da cura: “Há um momento para digerir as emoções depois que algo injusto acontece em sua vida, mas se você se agarra a isso por anos e anos, então você se torna um prisioneiro da falta de perdão”.
E continuou: “O perdão é para você. O perdão liberta você. Nem sempre é para a outra pessoa. Às vezes, nós perdoamos, e essa pessoa nem está em nossa vida. É abrir mão do nosso direito de ficar com raiva”.
Craig reconheceu que o perdão é difícil, mas destacou que os seguidores de Cristo são chamados a fazer isso.
“Espiritualmente, você deveria escolher o caminho do perdão. O perdão é uma atitude. Não é apenas um acontecimento único. É uma atitude que adotamos: ‘Sou uma pessoa que perdoa, vou deixar de lado as ofensas que os outros causam contra mim’. Assim, estarei livre e essa é uma ótima maneira de viver”, concluiu.
Nos últimos 25 anos, Craig viajou pelo mundo compartilhando sua história e a de Rachel. Ele tem a missão de impactar as pessoas de maneira positiva por meio do poder de seu testemunho.
Atualmente, ele administra um site e lançou um podcast chamado “Pain into Purpose” (“Dor em Propósito”), que apresenta histórias de outras pessoas que encontraram significado em seu sofrimento.