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Precisamos dar mais atenção ao 'autocuidado' na vida cristã, dentro e fora das igrejas



Recebi com tristeza a notícia da morte do ex-satanista e teólogo Daniel Mastral. Não sei exatamente às circunstâncias do ocorrido, mas tomei conhecimento de boatos sobre possível suicídio. Dias atrás, um outro relato me chamou atenção e quero usar esses dois casos como base de reflexão a respeito de algo de grande importância, que é o autocuidado.

O outro relato do qual me referi foi compartilhado pelo pastor Luiz Sayão, um dos nomes mais respeitados da teologia nacional. Coloco abaixo um recorte do seu testemunho, onde comunicou o seu afastamento temporário da sua agenda de compromissos para poder cuidar da sua saúde:

“Na semana passada tive uma crise de saúde séria: subida repentina de pressão, dor de cabeça forte e persistente, três pesadelos terríveis com gritos, choro e movimentos bruscos, e um quadro de abalo emocional bem forte. Sempre guardo internamente as emoções. Seguro a minha dor e a de muitas pessoas. Ando muito triste com o sofrimento de gente querida e com os conflitos do mundo. Tenho somatizado tudo isso. De repente, rompeu tudo.”

Em um artigo publicado também por Sayão no último dia 7, onde ele fala sobre um encontro com Mastral em 2023, o hebraísta disse ter percebido nele uma “intranquilidade e um certo abatimento. Seus pensamentos pareciam por vezes marcados por questionamentos, dor e busca.”

Na sequência do seu texto, Sayão faz uma reflexão que também faço questão de trazê-la como recorte, já que ela demonstra claramente o quanto o conceito de cuidado, também da saúde mental, envolve a todos, tal como envolveu os profetas do Antigo Testamento:

“…não importa nossa experiência, nossa bagagem cultural, nossa religiosidade, somos e sempre seremos frágeis e dependentes do Pai Celestial. Precisamos de todo cuidado: espiritual, físico, emocional. A sabedoria bíblica nos ensina isso de modo único: os profetas de Deus, Elias e Jonas, pediram a morte no momento de crise maior. Não há um estranhamento no texto.”

Autocuidado cristão

Na psicologia, o autocuidado é um conceito comum que reflete uma dimensão de responsabilidade individual a respeito de práticas de cuidado que devemos ter com nós mesmos. Aqui, porém, quero ampliar essa noção, levando ela para o campo do cristianismo.

Isso, porque, no cristianismo, cuidado é um conceito comunitário! “Levai as cargas uns dos outros, e assim cumprireis a lei de Cristo”, é o que está escrito em Gálatas 6:2, onde no verso 10 do mesmo capítulo é dito que isso deve ser feito “principalmente aos domésticos da fé.”

Em 1 Timóteo 5:8 é dito que “se alguém não tem cuidado dos seus, e principalmente dos da sua família, negou a fé, e é pior do que o infiel.” Isso é o que 1 João 3:17-18 ensina sobre o não amar só por “palavra, nem de língua, mas por obra e em verdade.”

O conceito de autocuidado cristão, portanto, passa pela relação de convivência entre os irmãos em Cristo. Isto significa que, por mais que tenhamos um nível de responsabilidade individual sobre o nosso cuidado, não podemos deixar de olhar o “outro” em suas necessidades, sejam elas físicas, espirituais (Hebreus 3:13) ou emocionais.

Isto posto, pergunto: será que nós, como Igreja, estamos cuidando devidamente uns dos outros? E quanto aos líderes, em especial, esse exercício tem sido feito? Ou, será que em vez disso temos sobrecarregado àqueles, que, por amor a Cristo, têm doado energia, literalmente “sangue, suor e lágrimas”, mesmo precisando eles mesmos de atenção e acolhimento?

Finalizo esta reflexão fazendo um apelo aos irmãos em Cristo para que pratiquem o autocuidado comunitário, e não só o individual. Sejamos um só corpo, unido, capaz de enxergar com atenção, também, quando os nossos – bons – líderes estiverem precisando de ajuda, alívio, e não de mais cargas.

 

Marisa Lobo é psicóloga, especialista em Direitos Humanos, presidente do movimento Pró-Mulher e autora dos livros “Por que as pessoas Mentem?”, “A Ideologia de Gênero na Educação” e “Famílias em Perigo”.

* O conteúdo do texto acima é uma colaboração voluntária, de total responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Portal Guiame.

Leia o artigo anterior: Inclusão não pode servir de pretexto para que as mulheres sejam injustiçadas



FONTE: GUIAME


12/08/2024 – Destak Gospel

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