Essa é uma pergunta que ocupa nossa mente com mais frequência do que gostaríamos de admitir. E é muito humano, mesmo para os cristãos, pensar na felicidade como a realização de desejos: o desejo surge; o desejo é satisfeito. A dor surge; a dor é tratada.
Mas somos felizes? Raramente, por estes dois motivos:
(1) É muito difícil conseguir tudo o que queremos.
(2) Mesmo que consigamos, não estamos satisfeitos.
Estamos perpetuamente à procura, sempre aguardando a próxima satisfação que irá nos preencher. Nós a conseguimos, mas aí almejamos uma próxima conquista, procurando constantemente o fim do arco-íris. Mas quando ele chega, não há nenhum pote de ouro. No fim do arco-íris encontramos somente nossos corações vazios ansiando pela próxima promessa de satisfação.
Nas palavras de Jean-Jacques Rousseau, somos movidos por uma “desproporção entre os nossos desejos e as nossas capacidades.” Ou, como afirma Arthur Schopenhauer, “o homem nunca é feliz, mas gasta toda sua vida se esforçando para encontrar algo que o satisfaça.” A satisfação de desejos não leva a um senso de felicidade; ela é apenas satisfação de desejos.
Essa não é uma nova descoberta revelada por estudos psicológicos. A humanidade sempre soube que não somos felizes ao buscar, nem ao alcançar, tudo o que desejamos.
Gregório de Nyssa: “Pois tão logo quanto uma pessoa satisfaz seu desejo, obtendo o que quer, ela começa a desejar algo mais e acha-se vazia de novo; e se ela satisfaz o seu desejo com isso, ela torna-se vazia mais uma vez e pronta para ainda outro desejo.”
Bernardo de Clairvaux: “É tolice e loucura extrema estar-se sempre ansiando por coisas que não somente nunca podem saciar, mas não podem nem mesmo tapear o apetite; não importa o quanto você tem dessas coisas, você ainda deseja o que não conquistou; você está sempre suspirando sem descanso por aquilo que falta.”
Tomás de Aquino: “No desejo de riqueza e de todos os bens temporais… quando já os possuímos, nós os desprezamos e buscamos outros… A razão disso é que percebemos sua insuficiência quando os possuímos: e esse mesmo fato mostra que eles são imperfeitos, e o bem soberano não consiste neles.”
Como argumento em O Paradoxo da Felicidade, a satisfação dos desejos é a porta errada para a felicidade. Nós a experimentamos, na verdade, quando nos doamos aos outros. “O programa de tornar-se feliz, que o princípio do prazer impõe sobre nós, não pode ser satisfeito”, concluiu Sigmund Freud. “Por nenhum dos caminhos [que trilhamos] podemos alcançar tudo o que desejamos.”
Ou, como Jesus expressa, “Pois quem quiser salvar a sua vida, a perderá, mas quem perder a sua vida por mim e pelo evangelho a salvará” (Marcos 8:35).
René Breuel é um escritor brasileiro que mora em Roma, na Itália. Autor da obra Não é fácil ser pai: Como domar os leõezinhos, não chatear sua esposa e recuperar (um pouco) a sanidade depois da paternidade, possui mestrado em Escrita Criativa pela Universidade de Oxford, no Reino Unido, e em Teologia pelo Regent College, no Canadá. É casado com Sarah e pai de dois meninos, Pietro e Matteo.
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