O novo episódio do podcast “Café com Elas”, feito em parceria com o Guiame, apresentado pela pastora Adriane Salvitti, recebeu a atleta paralímpica, Mônica Santos.
A atleta de Santo Antônio da Patrulha, município no Rio Grande do Sul, veio de uma família humilde e contou sua história de superação.
Mônica nasceu em uma família católica e contou que conheceu Jesus há 20 anos: “Fui realmente tocada por Jesus depois que passei por várias dificuldades. Eu acredito muito que Deus às vezes coloca dificuldades para que você realmente o busque mais. Desde então, não consigo mais viver sem Ele”.
Na adolescência, ela gostava de jogar futebol e vôlei, e nesse período conheceu Angelo Silva, com quem é casada.
“Comecei a namorar com ele aos 15 anos. Passamos por várias dificuldades, mas graças ao Senhor estamos firmes na luta”, contou ela.
Angioma Medular
No período em que Mônica e o marido resolveram tentar engravidar, ela passou por um grande desafio. Um dia, ao acordar, ela não conseguiu levantar da cama.
À princípio, ela achou que poderia estar com anemia e procurou um médico em Porto Alegre, a cidade mais próxima com recursos necessários para atendê-los.
“Lá, descobriram que eu estava grávida de cinco semanas. Foi uma felicidade imensa. Mas ainda não sabíamos por que eu não conseguia andar”, relembrou Mônica.
Os médicos tiveram que aguardar até o quarto mês de gestação para realizar exames mais específicos. No tempo previsto, Mônica realizou um cateterismo e descobriu que tinha um angioma medular, uma anormalidade que ocorre nos vasos sanguíneos do cérebro ou da medula espinhal.
Com esse diagnóstico, os médicos recomendaram que ela abortasse para fazer uma cirurgia e voltar a andar.
“Até o quinto mês de gestação, a prioridade é salvar a mãe em vez do feto. Mas essa possibilidade não existia para mim. Sempre fui muito ligada à minha família, e o bebê era algo que eu queria muito. Assinei um termo de responsabilidade e continuei com a gravidez”, afirmou Mônica.
“Os médicos queriam de toda maneira que eu interrompesse a gestação. Mas em nenhum momento eu cogitei essa possibilidade. Me apegava a Jesus, dizendo: ‘Senhor, deixe minha filha nascer. Se tiver que acontecer algo, que aconteça comigo’”, acrescentou.
Ela recebeu alta, mas tinha que ir ao hospital três vezes na semana para monitorar sua saúde e a do bebê: “Os médicos achavam que até o quinto ou sexto mês, tanto eu quanto o bebê poderíamos morrer, conforme o angioma avançava”.
Desde o dia em que tentou levantar da cama, Mônica ficou totalmente sem andar. Devido à gravidade do caso, ela não podia fazer nenhum esforço e nem mesmo a cadeira de rodas foi uma opção na época.
“Eu era pega no colo para sair da cama para fazer algumas coisas em casa. Em casa, andava numa cadeira de escritório para tomar banho e fazer refeições com a família. Era repouso absoluto”, lembrou ela.
E continuou: “E no momento em que tive uma conversa com Jesus, disse para Ele: ‘Senhor, minha filha é Tua. Eu só quero que ela nasça sem nenhuma deficiência. Que ela nasça perfeita e que ela seja uma sementinha que eu vou deixar para os meus pais’. Eu pensava muito nos meus pais e na graça de Deus, pois sabia que a qualquer momento poderia morrer, mas que Jesus poderia salvá-la”.
“Deus me deu a Paolla completamente perfeita. Ganhei a Paolla de oito meses, por cesárea, com anestesia geral. Deus cumpre tudo o que Ele promete, tudo o que Ele toca no coração. E isso é maravilhoso. Ter esse Jesus junto contigo”, acrescentou.
A atleta levou a filha para casa completamente saudável. Porém, logo após o parto Mônica precisou fazer uma cirurgia na coluna.
Confira o episódio completo:
A cirurgia
Segundo Mônica, a cirurgia era complexa, havia chances dela ficar tetraplégica, não movimentar o corpo do pescoço para baixo e risco de morte.
“Eu sabia que não voltaria mais a pegar minha filha nos braços. Entreguei minha vida a Deus, dizendo: ‘Senhor, eu já te pedi tudo, não posso mais pedir nada. Faça a Tua vontade’. Só agradeci por ela [Paolla] estar bem. Entreguei ela nos braços da minha mãe e do meu marido, e pedi que cuidassem dela com os mesmos princípios, valores e fé que me criaram. Foi a parte mais difícil”, disse ela.
Nesse momento, a atleta se emocionou e disse que reviver esse período é algo muito forte para ela:
“Em nenhum momento eu disse a Deus ‘deixa eu voltar’ ou ‘deixa eu voltar andando’. Apenas pedi que Ele fizesse a vontade Dele. Fiz a cirurgia, que durou 12 horas, com mais de 50 médicos internacionais presentes, registrando tudo. Tive uma malformação de nascença que se manifestou durante a gravidez. Mas a cirurgia foi melhor do que o esperado. Depois de 17 dias no hospital, descobri que tinha ficado apenas paraplégica”.
Quando recebeu a notícia, Mônica surpreendeu os médicos com a confiança que tinha em Deus.
Os médicos perguntaram: “Você tem noção de que ficou paraplégica?”. E ela respondeu: “Sim, mas as minhas possibilidades eram ficar tetraplégica ou morrer. Deus me deu esse presente de eu poder voltar e pegar minha filha nos braços. Isso não tem preço”.
Apesar da cadeira de rodas, Mônica se tornou independente para cuidar de sua filha. Meses depois, ela já conseguia fazer comida, dar banho na bebê, brincar e até dirigir: “Pela Paolla, me tornei independente em uma cadeira de rodas”.
Atualmente, a filha Paolla, de 21 anos, está cursando enfermagem para cuidar da mãe.
O esporte
Anos depois, Mônica começou a praticar esportes adaptados. Por 13 anos, ela jogou basquete, mas só participou de campeonatos nacionais. Tempos depois, ela conheceu um amigo que lhe apresentou a esgrima e, com apenas 20 dias de treino, Mônica participou de uma competição em Curitiba e ganhou o terceiro lugar.
“Foi um mundo novo para mim. Entrei na seleção em 2011, onde estou até hoje. É lindo. Já ganhei mais de dez campeonatos brasileiros. Sou a única mulher a conquistar uma medalha de ouro internacional na esgrima. Participei das Paralimpíadas do Rio, de Tóquio, e agora vou para Paris. Estou entre as dez melhores do mundo na esgrima”, contou ela.
“As pessoas às vezes acham que a cadeira me prende, mas pelo contrário, através dela conheci o mundo. Minha filha diz que minha mãe não anda, ela voa. Conheci mais de 19 países através de uma cadeira de rodas. Aceitei minha condição, me adaptei e mostrei que o preconceito está dentro de nós, não nas outras pessoas”, acrescentou.
Hoje, a atleta está se preparando para competir nos Jogos Paralímpicos Paris que irão começar no dia 28 de agosto de 2024.